(Originalmente escrito em 02/04/21)
Este texto é o resultado de estudos e reflexões a respeito da filosofia hermética. Algumas afirmações feitas adiante assumem premissas desta corrente filosófica. Para saber um pouco mais a respeito, recomendo a leitura dos livros indicados nas referências bibliográficas ao fim do texto.
O SER HUMANO NÃO PASSA DE UM CANIÇO. O MAIS FRACO DA NATUREZA. MAS UM CANIÇO PENSANTE
BLAISE PASCAL
O Transcendente e o Imanente
Os termos imanência e transcendência são opostos onde são aquilo que se encerra em si mesmo e aquilo que tem uma causa maior e exterior a si mesmo, respectivamente
A única realidade está representada como o “É”. Coisa alguma está fora dele, pois se fosse de outra forma não seria infinito (CAIBALION, 1905, p. 49). No “É”, em termos de tempo só existe no Eterno Agora, portanto não há passado e nem futuro, somente presente. É a mente quem gera a ideia de passado e de futuro e isto funciona de forma fazer parecer que existem dois mundos distintos, o Transcendente e o Imanente. Na verdade o Imanente se baseia na condição de manifestação parcial da consciência. Qualquer analogia com a teoria do mundo das idéias x mundo sensível de Platão se encaixaria perfeitamente neste raciocínio.
Para nos auxiliar na elaboração do assunto, vamos utilizar o conto do elefante, do folclore hindu. Neste conto, a parte percebida por cada cego representaria o elefante. Na consciência ocorre o mesmo: a parte percebida por cada ser compõe um mundo distinto – um mundo imanente – mas que não é o verdadeiro mundo transcendente. A percepção parcial é que motiva a existência aparente de um outro mundo – Imanente.
A incapacidade de perceber o tempo como algo absoluto e infinito gera a ilusão de tempo linear. Nesta condição ele se apresenta nas formas de passado, presente e futuro. O Imanente é um mundo baseado em passado e futuro e onde não há lugar para o presente, para o agora. Quando é o presente? ele jamais é encontrado no mundo Imanente, neste mundo que aceitamos como real e concreto.
TEMPO INFINITO É ETERNO AGORA UMA CONDIÇÃO QUE SOMENTE EXISTE COMO O “É“
Tomemos como exemplo uma hora qualquer como, por exemplo, meia noite. Quando ocorre a meia noite? quando é o agora da meia noite? Faltam 10 minutos, falta um minuto, um segundo, um nanosegundo, e assim por diante nesse processo cada vez o tempo faltante diminui, mas quando é que ele zera? Em nível de tempo linear jamais se chega a atingir a meia noite. Isto tende para o infinito, portanto somente no infinito ocorre o agora, contudo quando isto acontece, em se tratando de infinito, já não é mais Imanência e sim Transcendência.
O “É” precisa ser infinito no tempo, ou eterno, dada sua natureza Transcendente: precisa ter existido continuamente em todos os momentos, pois não há nada que pudesse tê-lo criado, e nada pode surgir ou evoluir do nada; da mesma forma, se por algum momento ele não tivesse existido, não poderia existir agora. Ele precisa continuar existindo para sempre, pois ele jamais poderá “não ser”, uma vez que algo não pode nunca se tornar nada. As partes do elefante que percebemos são apenas partes fracionadas do tempo Transcendente.
O “Flow” e o tempo transcendente
Existem estudos da psicologia positiva que abordam um conceito que eles chamam de “Flow“, sendo o Psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi o criador deste termo e maior expoente desse ramo de estudo da psicologia.
Segundo o criador deste termo, “flow” é uma descrição de como as pessoas se sentem quando estão se sentindo completamente vivas. Em outras palavras é aquele breve momento em que estamos tão envolvidos com o que estamos fazendo que “não sentimos o tempo passar” ou “o mundo ao redor parece não existir”, perda de sensação do ego ou no momento do orgasmo (La petite mort, como dizem os franceses)
Os benefícios enumerados pelo estudo conduzido pelo Dr. Mihaly estão o aumento da sensação de felicidade, de liberdade, de autoconsciência, dentre várias outros. Apesar do estudo focar nos aspectos físicos e psicológicos (ou mesmo focados no ambiente de trabalho…), acredito que essa possa ser uma janela para um conhecimento mais profundo da consciência e da transcendência.
Seria este ‘estado de flow’ uma forma da nossa consciência experimentar o mundo transcendente? 🤔
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Referências bibliográficas
Sales Lopes 